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Fotografia do filme Sono de Inverno
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CRÍTICA
“…É surpreendente como o tempo passa e não sentimos que todo aquele
tempo é desnecessário…há filmes que, tal como certos momentos do nosso viver,
merecem tempo para absorvermos pormenores, situações que de outra forma soariam
a vazio… Deambulamos por este filme e encontramos paisagens colossais: a
brancura preenche o ecrã e ficamos naquele espaço, numa letargia que só a neve
sabe inculcar… Deambulamos por este filme e vamos ao encontro de nós mesmos
carregados de anseios, medos, preconceitos e soberba. Olhamos para aquela tela
e no confronto entre as personagens, no diálogo entre dois irmãos, no diálogo
entre o casal protagonista, existe um pouco de nós… Se o tempo do filme nos
assusta, é precisamente desse tempo longo que o filme vive, já que é esse o
tempo necessário para nos aproximarmos daquelas personagens porque aquele é o
tempo real, porque o tempo real do confronto é longo…a vida, tal como os nossos
diálogos que vão ao encontro do tudo e do nada faz-se de tempo, quantas horas
tecidas em torno de conversas passámos à volta de uma mesa? Este filme é, sem
dúvida, sobre estas questões, sobre as ideias tecidas entre duas pessoas que se
amam, sobre o afastamento que existe entre dois seres, sobre a incapacidade que
temos de ser iguais ao outro por mais vida que tenhamos ao seu lado. A vida,
enquanto confronto vivo, enquanto inquietude constante, enquanto incapacidade
para que o outro nos veja da forma que quereríamos que nos visse está naquela
tela… Este é cinema do mais real que podemos ver e foi por isso que, ao sair
daquela sala, não saí sozinha pois aqueles confrontos, aquela solidão é também
minha, é também nossa…
Patrícia Mingacho, in Público 01/02/2015
Patrícia Mingacho, in Público 01/02/2015
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